«Nos últimos anos do século passado e na viragem de um século para o outro, precedendo a enorme crise económica e financeira actual, assistimos a uma enorme e violenta ofensiva económica, social, política e ideológica do capitalismo visando rasgar a plataforma civilizacional de direitos políticos, económicos, sociais e culturais, conquistada pelo movimento operário internacional.
No centro dessa ofensiva está uma profunda depreciação do trabalho. Embora esta depreciação se articule com outras práticas e objectivos da política neo-liberal, ela assume em si o papel de núcleo duro da ofensiva.
A que chamamos depreciação do trabalho?
- a continuada baixa dos salários reais ou a tendência para a baixa da parte da remuneração do trabalho na distribuição da riqueza socialmente produzida em favor do aumento da parte que dela vem a caber ao capital;
- a tendência para o real aumento do desemprego independentemente de mínimas flutuações estatísticas, aliás manipuladas;
- o aumento do trabalho precário nas suas diversas formas: trabalho a prazo, a recibos verdes, trabalho intermitente, etc.;
- a facilitação por diversas vias dos despedimentos colectivos e individuais sem justa causa;
- o agravamento das condições de trabalho;
- a desvalorização salarial e social do trabalho intelectual em sectores como o da educação e ensino, da saúde e da administração pública;
- a desvalorização do papel das organizações sindicais.»
Manuel Gusmão