Uma das perguntas que mais ouvimos, vezes e vezes sem conta, é: qual o significado da iconografia do Dalaiama? Por quê os pássaros? Por quê os euros? Por quê o boneco de boca aberta (e por quê é que nunca a fecha)? E as flores? E os corações?...
Bem, hoje vamos tentar responder a isso de modo a não precisarmos estar a repetir as mesmas ideias de cada vez que nos perguntam.
Quem nos pergunta sobre o significado do nosso imaginário, sabe, através da troca privada de mails, que ouve como resposta: «tu estás a perguntar, mas nós devolvemos-te a pergunta: o que é que tu vês no nosso imaginário?» Com toda a cordialidade as pessoas respondem-nos, cada uma à sua maneira, e nós sorrimos agradecidos por aquela partilha. A curiosidade por parte do público que frui a street art dalaiamiana é grande, porém igualmente grande é a nossa curiosidade em saber como é que as pessoas recebem essa arte.
As respostas que nos dão às vezes aproximam-se umas das outras mas, noutras ocasiões, são surpreendentemente diferentes e interessantíssimas no que trazem de novo. Cada indivíduo vê as coisas à sua maneira. E é assim que deve ser. Respeitamos todos os pontos de vista. Todas as respostas estão certas.
Todas as respostas estão certas?! Como é possível?!
Sim. Porque o nosso entendimento do espaço público é de que o que ali acontece é fruído por todos e a todos pertence. Como os grupos são constituídos por indivíduos, a apropriação de significados acontece colectiva mas também individualmente. Acreditamos que todas as pessoas são inteligentes e sensíveis, portanto capazes de formular juízos coerentes sobre os objectos estéticos que os rodeiam. Nós respeitamos esse conhecimento que cada indivíduo transporta. Não elitizamos. Cada cidadão interpreta o mundo, e a Arte que o integra, munido da sua própria vivência, acrescentando ao que vê os seus próprios conteúdos culturais, políticos, poéticos, ideológicos... Por que razão dir-se-ia que determinada interpretação é mais correcta do que a outra? Frequentámos à saciedade universidades e pós-universidades e com toda a propriedade podemos dizer que várias vezes foi mais interessante ouvir o que tem a dizer o varredor de rua do que a leitura sobranceira de um catedrático. Não estamos a advogar uma oposição ao estudo e à aquisição de conhecimentos. Na verdade, ler e aprender são dos actos mais essenciais na nossa passagem por este planeta. Simplesmente as coisas não devem ser empoladas, deve ser-lhes dado o seu devido valor, que é sempre muito relativo. Quanto ao estudo puramente académico, é nossa opinião que não basta revestir um pêssego com pele se ele não tem carne ou nem mesmo caroço.
A Arte Urbana, como nós a entendemos, é uma oferta à comunidade. Se é oferta, cada um pode e deve entendê-la à sua própria maneira. Analogamente, faria sentido alguém receber um livro, por exemplo, e juntamente com esse livro uma lista limitada de interpretações possíveis? Não é nosso propósito dizer às pessoas o que elas devem pensar. Para isso já existe a avalanche de publicidade e propaganda ideológica com que nos cruzamos sempre. Nós não somos doutrinadores. Não condicionamos os modos de ver. Todos os entendimentos são bem-vindos. Haja imaginação! E assim deve ser a rua, espaço de debate colectivo, de diversidade, de reflexão, de respeito pelas opiniões alheias, de manifestação colorida e convivência democrática.
Naturalmente, nós temos a nossa própria leitura, que resulta na intenção do que é expresso. É flagrante que no nosso discurso há mensagem. Não nos resumimos à produção vazia de adornos urbanos. Isso é claro para todos. As pessoas interrogam-se acerca das possibilidades dessa mensagem, mas todas concordam que ela existe e que é, a um só tempo, política e poética. Somos movidos pelo desejo de comunicar e de inspirar questionamentos. Praticamente não usamos palavras e é assim que deve ser. Produzir Street Art não é o mesmo que escrever um panfleto. O texto visual segue percursos de significação próprios em dimensões autónomas. A nossa Arte Urbana existe menos para apresentar perguntas e mais para levantar interrogações. As respostas? Cada um é capaz de encontrar as suas.
We always listen to the question: «what is the meaning of your Street Art? What for is the dove/bird? What's the reason of the guy wearing a tie? Why do you draw euros, and flowers, and hearts, and etc? What's the meaning of all that?» People who made that question have heard the answer: «We are also curious about your point of view. What do you see there, in the birds, in the euros, in that guy with an open mouth, etc?» People have been kind enough to tell us their thinking and we are grateful for what they share. Believe it or not, there are so many different and amazing answers that it's always a nice surprise to read them!
And which are the right answers? Actually, we consider they are all right. Then you may say: «how is it possible?! There should be only one right answer!» Well, we don't think so. Indeed, we do Street Art because we want to communicate something, that is clear, it's obvious we do not choose to do empty and merely allegorical Urban Art. Just we don't own the only truth, we don't intend to tell people what they should think, what they should do, how they should read our message. People are free. We believe everybody is clever and sensitive. We don't think Art is something exclusive to any kind of elite. Thus, everybody can find a coherent meaning for the Art they come across in the streets. And it's ok.
We do Street Art as an offer that everyone can democraticly access. It's a gift, after painting we artists don't own it anymore. It's nonsense to tell people how they should interpret something that belongs to them.
Every minute we are bombed with advertisement and ideological propaganda telling us where to go, what to buy, who to be, how to behave... We're fad up with it! Definitely that's not the role of Street Art.
People should claim the streets to express themselves, also they should claim the right to interpret for themselves what is expressed in the streets. It's up to us, citizens, to decide how to read this book called Street Art. People own the streets, what includes the meanings of what you can find there.
For sure, people realise we do Street Art for political and poetic purposes. We achieve our goals when people realise that. That's enough for us. We are not writing a political leaflet, we very seldom use words, we don't need them. We know visual talking has its own power and autonomous speech. It's positive to see citizens ask, but we're not here to give the answers. If you have questions, we believe you can find your own answers.