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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Coesão social: os limites da ruptura


"Estudiosos do Banco Mundial, portanto, ideologicamente insuspeitos de qualquer simpatia teórica pelo marxismo, sugerem desde o final dos anos 80 do século passado que, ultrapassados certos limites de degradação das condições económicas e sociais, em comparação com o passado recente, produz-se uma ruptura da coesão social. Claro, se não forem criadas redes de proteção social.

Quais são estes limites? Para alguns uma inflação anual acima de 50%, se não houver mecanismos financeiros de correção monetária, como a experiência de superinflação latino-americana dos anos 80 do século passado. Ou o desemprego da população economicamente ativa acima de 20%, se não houver subsídio de desemprego, como na Argentina em 2001. Ou o confisco indefinido das poupanças, como no Brasil em 1990. Ou a redução do salário médio nacional acima de 30%, seja sob a forma de confisco, ou de aumento nos impostos, sem garantias de recomposição, como na Grécia recentemente. Ou ainda as regressões económicas abruptas, uma síntese de combinações variadas dos fatores anteriores, com quedas vertiginosas dos PIB, fugas de capitais, que resultam em aumento da desigualdade social.

Foi com base nestas premissas que o Banco Mundial elaborou, de forma pioneira, as propostas das políticas sociais de emergência: rendimento mínimo de sobrevivência, distribuição de bolsas alimentação e outros programas focados (e não universais) semelhantes. O seu objetivo foi manter sob contenção o mal-estar dos setores populares mais vulneráveis. Políticas públicas de assistência social com a finalidade preventiva de garantir a governabilidade. São cientistas sociais convocados a pensar como manter o domínio político de massas populares pauperizadas. Profissionais com formação científica apoiam-se em experiências exploratórias como num laboratório, mas ao vivo e a cores, e com financiamentos do Banco Mundial. Por exemplo, numa cidade na Colômbia, noutra no Brasil, para verificar o grau de controle que a distribuição de uma cesta básica, ou diretamente de dinheiro, podem conseguir, inibindo ou impedindo a auto-organização livre. A eficiência política destas políticas sociais compensatórias permanece ainda sob estudo. Mas merece ser avaliada, porque parece ser grande.

As ciências sociais contemporâneas, em muitas das suas correntes, e para além das fronteiras da economia, da sociologia, da demografia, da história, da geografia, estão muito atentas, também, à investigação da conflitualidade social. O marxismo, como tendência teórico-metodológica, na sua pluralidade, tem produzido um quadro de pesquisa essencial para o entendimento do mundo do século XXI. A pauperização vertiginosa, seja provocada por um destes fatores, ou por combinações deles, deve ser considerada seriamente como a sinalização de um mergulho na decadência nacional."

Valério Arcary

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Continuar


"Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada pra andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada pra andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar"


Jorge Palma

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Those Who Are Free to Bomb Us


"I think it's stupid to rent public places to politicians and multinational companies that are free to bomb us with their fucking messages. As a protest of the using of public spaces I'm feeling free to paint on the street, so the medium is the first message."

Hogre (italian street artist)

domingo, 27 de setembro de 2015

Cortando quebra-cabeças


Na mesa de corte, pequenos bocados de cartão formam puzzles.
Stencils and the art of cutting puzzles.

sábado, 26 de setembro de 2015

Fragen eines lesenden Arbeiters


"Wer baute das siebentorige Theben?
In den Büchern stehen die Namen von Königen.
Haben die Könige die Felsbrocken herbeigeschleppt?
Und das mehrmals zerstörte Babylon,
Wer baute es so viele Male auf ? In welchen Häusern
Des goldstrahlenden Lima wohnten die Bauleute?
Wohin gingen an dem Abend, wo die chinesische Mauer fertig war,
Die Maurer? Das große Rom
Ist voll von Triumphbögen. Über wen
Triumphierten die Cäsaren? Hatte das vielbesungene Byzanz
Nur Paläste für seine Bewohner? Selbst in dem sagenhaften Atlantis
Brüllten doch in der Nacht, wo das Meer es verschlang,
Die Ersaufenden nach ihren Sklaven.
Der junge Alexander eroberte Indien.
Er allein?
Cäsar schlug die Gallier.
Hatte er nicht wenigstens einen Koch bei sich?
Philipp von Spanien weinte, als seine Flotte
Untergegangen war. Weinte sonst niemand?
Friedrich der Zweite siegte im Siebenjährigen Krieg. Wer
Siegte außer ihm?
Jede Seite ein Sieg.
Wer kochte den Siegesschmaus?
Alle zehn Jahre ein großer Mann.
Wer bezahlte die Spesen?

So viele Berichte,
So viele Fragen."

Bertolt Brecht


(Perguntas de um trabalhador que lê)

"Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?
Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram pedras?
E Babilônia, tantas vezes destruída, quem a reconstruía sempre?
Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a edificaram?
No dia em que a Muralha da China ficou pronta,
para onde foram os pedreiros?
A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo: quem os erigiu?
Quem eram aqueles que foram vencidos pelos césares?
Bizâncio, tão famosa, tinha somente palácios para seus moradores?
Na lendária Atlântida, quando o mar a engoliu, 
os afogados gritaram pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César ocupou a Gália.
Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro? 
Felipe da Espanha chorou quando a sua frota naufragou. Foi o único a chorar?
Frederico Segundo venceu a guerra dos sete anos. Quem venceu com ele?
A cada página uma vitória.
Quem preparava os banquetes comemorativos? 
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias.
Tantas questões."

Bertolt Brecht

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

6.000 anos a girar


Tendo em conta que acedemos ao spot num veículo motorizado sobre rodas, e que até as moedas são circulares, o post de hoje bem poderia ser considerado um tributo à invenção da roda.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Street View renovado

https://goo.gl/maps/cBULN84L6uj

Houve uma atualização no Street View da Google. Acima, a primeira imagem data de dezembro de 2009. A segunda é mais recente, foi obtida em agosto de 2014.

Antes desta mudança no ciberespaço, já nós tínhamos procedido à atualização do spot, que entretanto fora refrescado in loco ;) 

Ainda lá voltaremos antes da próxima ronda do carro do Google Street View!
A saga continua ;)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Adeus, Verão! :-)


A gratidão dos dias.
O fascínio do tempo.
Respirar é uma curiosidade.
Nós somos a estrada.

Autumn follows summer.
Life always finds its way through mysterious paths.
Mr. Time is curious about tomorrow.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A persistência do Povo grego


"Acho esta segunda vitória eleitoral do Syriza uma bofetada dada pelo povo grego ao poder europeu, com ainda maior estalo do que aquele que soou a 25 de janeiro passado.

[...] o eleitorado grego [...] informou agora a Europa que a guerra, afinal, ainda não acabou.

O que a renovação quase intacta dos votos concedidos ao Syriza/Anel declara é que os gregos não desistiram: não podem ganhar rapidamente a Merkel, Hollande, Dijsselbloem, Draghi, Juncker e Lagarde então, pacientemente, propõem-se prolongar a luta, com avanços e recuos, com vitórias e derrotas, certamente com contradições e erros, mas tentando sempre caminhar no sentido do seu objetivo principal: garantir que quem manda na terra dos gregos são mesmo os gregos..."

Pedro Tadeu

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Eleições na Grécia: resultados de ontem


"O Syriza venceu as eleições na Grécia, elegendo 145 deputados (menos quatro do que em janeiro passado).

O partido Gregos Independentes elegeu 10 deputados (menos três que em 25 de janeiro).

Syriza e Gregos Independentes poderão voltar a constituir coligação e governo, uma vez que os dois partidos juntos terão maioria absoluta. Os dois partidos elegem 155 deputados, sendo a maioria absoluta 151 deputados.

[...]

Nas eleições registou-se um aumento da abstenção de 36% para 45%.

O partido de direita Nova Democracia foi o segundo mais votado, teve mais 0,2 pontos do que em janeiro, mas perdeu um deputado.

O partido de extrema-direita, Aurora Dourada, mantém-se como terceiro partido mais votado, passando de 6,3% para 6,95% e de 17 para 18 deputados.

O Pasok, filiado no partido socialista europeu, teve uma pequena recuperação, passando de 4,7% para 6,27% e de 13 para 17 deputados.

Ao contrário, o partido To Potami passa de 6,1% para 4,1% e de 17 para 11 deputados. O KKE (partido comunista) mantém a percentagem (5,59 em vez de 5,50), e mantém o número de deputados, 15 mandatos.

Um novo partido (União Centrista) consegue chegar ao parlamento grego, obtendo 3,40% e elegendo 9 deputados.

Por sua vez, a Unidade Popular, constituída pelos deputados e membros do Syriza que estiveram contra a assinatura do terceiro memorando, não elege qualquer deputado, por não ter atingido o limiar de 3%."

Fonte: esquerda.net

domingo, 20 de setembro de 2015

Resistir com a Cooperativa Outro Modo


A cooperativa Outro Modo, que publica a edição portuguesa do mensário Le Monde diplomatique, comemorou o seu 9º aniversário com uma bela festa na passada 5ªfeira, dia 17.

Decorreu na Fábrica do Braço de Prata e nós tivemos a honra de ser convidados para pintar um mural, em conjunto com os artistas plásticos Telmo Alcobia e Eusboço. A pintura ao vivo decorreu das 18h às 21h.

Mas houve mais atividades. O programa incluiu uma exposição sobre os 61 anos do jornal Le Monde Diplomatique e sobre os 9 da Cooperativa Outro Modo, uma Feira do Livro com interessantes obras editadas pela Outro Modo, um debate crítico e bastante participado sob o tema "Jornalismo Sem Rasteiras", um Leilão de Arte, um Concerto com o grupo Marfa e ainda uma Jam Session e Animação com DJ's. A festa foi forte e quando terminou já era madrugada. 

Pois que a Cooperativa celebre muitos anos mais, prosseguindo a sua missão ímpar de promover reflexões profundas, bem fundamentadas e corajosas através das suas publicações e dos debates que organiza! É essencial haver quem promova um efetivo pluralismo de informação e de ideias no jornalismo nacional.

Merece todo o nosso apoio a Cooperativa Outro Modo. Os seus membros, através de esforço militante, coragem vanguardista e do seu espírito altruísta contrariam o jornalismo dominante que apenas repete o refrão "não há alternativa". Combatendo a doutrina do pensamento único, aquelas pessoas mostram-nos a todos que um outro modo de viver num outro mundo, mais solidário, é possível. Bem haja a Cooperativa Outro Modo!

sábado, 19 de setembro de 2015

Às vezes é preciso estar atento...


Onde está o WALLYaiama ?

Where's WALLYaiama ?

Look for WALLYaiama.

Where's WALDOaiama ?

Wo ist WALTERaiama ?

Où est CHARLIEaiama ?


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Sem milionários não haveria pobres



“O combate à pobreza implica redistribuição de poder. Pobre é quem, além do mais, perdeu todas as formas de poder. Combater a pobreza é, além do mais, restituir ao pobre o poder que perdeu. Também por isso, o combate à pobreza é, antes de mais, um problema político. E, porque está ligado à satisfação das necessidades básicas, é um problema político da mais alta prioridade. É um problema de liberdade, de dignidade.

Nós sabemos quem são os pobres em Portugal. Nós sabemos por que são pobres — desempregados porque não têm subsídio de desemprego ou esse subsídio é insuficiente; empregados pelo valor insuficiente do salário ou porque trabalham por conta própria e não ganham o suficiente; reformados por o valor da reforma ser demasiado baixo; ‘inactivos’ com actividades não reconhecidas pela economia, como domésticas. Se as coisas são tão claras, por que não se resolvem?

A pobreza configura uma negação de direitos fundamentais.”

Bruto da Costa

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Lutar por todos, resistir e vencer!

"As sociedades urbanizadas têm menor tolerância à perda de direitos do que as sociedades periféricas de economias ainda agropecuárias. Urbanização significa industrialização, portanto, peso social dos assalariados em todas as atividades e ramos. Significa maior complexidade produtiva, portanto, uma parcela maior dos setores médios. E significa escolaridade mais elevada. Nesse contexto social, encontraremos menos ilusões de que os sacrifícios de hoje terão recompensa no futuro. As classes trabalhadoras com maior escolaridade têm menos paciência. Isso é assim porque a capacidade de expressar de forma independente os seus interesses é maior.

É mais difícil para a classe dominante impor uma destruição das conquistas históricas da geração anterior. A rutura da coesão social é muito perigosa para o capitalismo. É difícil que se inicie um incêndio social, mas depois de começar, é muito mais difícil controlá-lo. Porque fica mais ou menos claro, rapidamente, que se trata de uma regressão social. Nenhuma sociedade mergulha em decadência sem que haja resistência, portanto, luta social. A psicologia social não opera da mesma forma, nos mesmos ritmos, que a psicologica dos indivíduos. Na dimensão pessoal, qualquer ser humano pode desistir de lutar em defesa de si mesmo, e fá-lo, rende-se, quebra. Está desgastado pelo cansaço ou pelo desânimo, até pela desilusão. As classes sociais não. As classes têm de lutar. Sempre lutam. A maior parte do tempo resistem, e só um setor mais ativo avança. E este setor que vai na dianteira da luta sente-se, incontáveis vezes, frustrado ou abatido, porque sabe que luta pelos outros, luta por todos, no lugar dos que não se movem, não arriscam. É comum que este desenvolvimento desigual das mobilizações gere um certo desespero da vanguarda.

Porque as amplas massas não lutam com disposição revolucionária de vencer, a não ser excecionalmente. Mas quando surge esta disposição ela é a força social-política mais poderosa da história."

Valério Arcary

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Abertura do ano letivo 2015-2016


"É real e de conhecimento pessoal. Tem 53 anos, 26 de profissão a que se entregou com amor, hoje cansado. Estava efectivo a 160 quilómetros diários (80 para lá e 80 para cá) da casa onde vive com duas filhas. Concorreu para mudança de quadro de escola, para se aproximar da residência. Conseguiu colocação numa escola 40 quilómetros mais perto (20 para lá e 20 para cá). Dois dias depois, o absurdo caiu-lhe em cima: a escola onde o colocaram não tem horário para ele. Alma angustiada, empurraram-no para a dança macabra da “mobilidade por ausência de componente lectiva”, que pode terminar em “requalificação” e despedimento.
Está apresentado. É um dos muitos, com vidas adiadas. Algumas, para sempre! É professor.
Daqui a dias vai falar-se, muito, do costume: das crianças que voltam às aulas, do que os pais gastaram para lá as pôr e das escolas que ainda não abriram. Não se falará, certamente, da situação profissional dos professores.

São muitos os estudos que têm procurado estabelecer o impacto das condições de trabalho na saúde física e mental dos profissionais. Esse impacto, em organizações humanamente evoluídas, é também assumido como um dos indicadores determinantes do grau de eficácia das organizações. Claro está que não estou a falar do nosso ministério da Educação, para quem pouco importa que cresçam exponencialmente os níveis de ansiedade dos professores e diminuam os que medem a motivação profissional. É outra a eficácia que atrai o interesse do ministério.

O stress ocupacional crónico (desequilíbrio entre as exigências e a capacidade de lhes responder) está genericamente presente na classe dos professores e pode originar o chamado burnout, entendido como um estádio continuado de fadiga física e psicológica. Sendo um problema das pessoas, é, antes, um problema do clima social criado e das organizações para as quais as pessoas trabalham.

Um pouco por toda a parte, é a insuspeita OCDE que o diz, os professores apresentam índices de mal-estar superiores, quando comparados com outros profissionais. A Organização Internacional do Trabalho classificou a profissão como de risco físico e mental e os que lidam de perto com os professores portugueses identificam níveis consideráveis de exaustão emocional, face ao aumento de situações problemáticas e desagradáveis, designadamente impotência para reagir e resolver perturbações de comportamento por parte dos alunos, e conflitos importantes de compatibilização da vida profissional com a vida pessoal e familiar.

[...]

As referências habituais à carga de trabalho dos professores raramente procuram perceber a influência que ela pode ter na qualidade das aprendizagens dos alunos e no contributo que dá (ou não dá) para o seu processo de desenvolvimento humano. Outrossim, quase sempre se centram em comparações injustas e descabidas, a maior parte das vezes movidas por essa chaga que é a inveja social."

Santana Castilho

domingo, 13 de setembro de 2015

Upper-Class Graffiti Artists


"Currently, approximately one-half of graffiti artists come from white middle- and upper-class homes, especially concentrated in suburban areas (Tucker Ch.3; Walsh 11). Though the art form was once originally relegated to low-income urban youth, the explosion of hip-hop style in the 1990's brought graffiti to an entirely new range of artistic and creative people."

Timothy Werwath