Dando seguimento às considerações que antes fizemos, depois de abordarmos aspectos relacionados com o conteúdo das nossas propostas visuais, hoje concentramo-nos na montagem/desmontagem puramente formal do discurso dalaiamiano. No entanto, logo que tenhamos tempo para isso, retornaremos ao rumo traçado, aprofundando simbologias e significações.
A iconografia do Dalaiama é predominantemente caracterizada por
1) uma personagem sem braços, com gravata, uma cabeça grande de perfil, boca aberta, dentes visíveis e um chapéu,
2) um ou mais pássaros (ou pombas),
3) euro(s).
Acessoriamente, mas de modo intenso e frequente, há estrelas, corações, flores, etc.
Do ponto de vista cromático, usamos criteriosamente as cores nas suas três dimensões: tonalidade (matiz), luminosidade (brilho) e saturação, sendo esta última uma das mais emblemáticas na medida em que os tons são quase sempre o mais puros possível.
Fomos academicamente influenciados por diversos estudos, em particular os de Johannes Itten, cujos 7 contrastes de cor aplicamos de modo alternado e premeditado. Damos especial atenção aos contrastes de quente-frio, claro-escuro e de complementares; em menor grau aos contrastes da cor em si mesma e de quantidade; por último, raramente nos preocupamos com os contrastes simultâneo (ou sucessivo) e de qualidade (principalmente porque os tons saturados são uma constante, ocupando todo o quadro).
Das 13 tonalidades possíveis, predominam, em representação dos tons quentes: o amarelo, o vermelho-magenta e o cor-de-rosa; dos tons frios: o violeta e o azul; dos neutros: o preto. Ocasionalmente usamos o dourado, mais raramente, o prateado.
Por fim, tudo isto compõe-se no campo visual de modo simples e directo, a lembrar o cartaz, considerando que o espaço público é um lugar extremamente concorrido, cheio de ruído visual, não-lugares e múltiplas velocidades. Tudo o que ali se exprime precisa de conduzir a uma leitura facilitada para uma apreensão rápida.
Talvez por isto haja tantas pessoas a virem dizer-nos que «o Dalaiama está em todo o lado». É com sincera gratidão que acolhemos essa afirmação que consideramos um elogio. Mas recebemo-la com enorme surpresa. A nossa noção é a de que apenas chegamos a uma ínfima parte dos spots que desejávamos. Com efeito, carregamos nos bolsos listas longas de spots que vamos elaborando à medida que circulamos pela cidade, sempre acrescentadas, sempre adiadas. Por mais que procuremos, metodicamente, preparar e calendarizar planos de intervenção, as contingências da vida adulta, as responsabilidades sociais, da família e do trabalho, impedem-nos, na maior parte das vezes, de cumprir a agenda proposta pela identidade alternativa da vida clandestina.
Portanto, é possível que essa noção de presença «em todo o lado» não se comprove, e surja, não por os desenhos efectivamente estarem em muitos lugares, mas sim pelo modo como eles são colocados, seguindo critérios que procuram ter em conta alguma literacia visual e um olhar culturalmente sustentado.
Em meio a isto tudo, não nos podemos esquecer de referir a consciência que temos de que a Arte Urbana nem sempre é consensual, raiando mesmo a fronteira entre o legal e o ilegal. Nós respeitamos todas as opiniões: há quem não compreenda e há quem aprecie. Da nossa parte, o que seguramente podemos afirmar é que fazemos, com boa intenção, o melhor que podemos e sabemos.
Continua em:
http://dalaiama.blogspot.pt/2012/03/euros-e-passaros-por-que-parte-3.html
http://dalaiama.blogspot.pt/2012/05/euros-e-passaros-por-que-parte-4.html
Sem comentários:
Enviar um comentário