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domingo, 13 de maio de 2012

Euros e pássaros por quê? (parte 4)


Já referimos antes que quem nos pergunta sobre o significado da nossa iconografia, pode confirmar que ouve como resposta a mesma pergunta: «o que é que tu vês no nosso imaginário?» Vamos procurar, de  seguida, resumir as várias interpretações que nos têm chegado. Estamos sempre agradecidos a todos  aqueles que dedicam momentos do seu percurso de vida a conjeturar sobre as nossas intervenções.  Podiam não o fazer, podiam nem reparar e seguir em frente, mas observam e dão-se ao trabalho de  procurar dentro de si próprios as soluções para as suas interrogações. É um fenómeno que contemplamos  agradecidos. Muitas vezes apresentam-nos interpretações surpreendentes!

O pássaro tem múltiplas designações. Já houve quem o referenciasse como sendo um condor, ou até um ganso, mas o mais  comum é ser visto como uma pomba. Ou apenas e simplesmente «pássaro». O mais frequente é dizerem-nos  que ele é perseguido pelos dentes afiados da boca aberta, havendo mesmo quem faça questão de  sublinhar o fato de nunca ser apanhado. Para outros não há qualquer perseguição, simplesmente o pássaro tem origem na boca aberta, é projetado a partir dela, descrito até como tendo sido vomitado ou expulso. Há ainda quem tenha dito tratar-se de um  pássaro no seu primeiro impulso para o voo, a sair da casca de um ovo, numa espécie de nascimento.

O personagem próximo ao pássaro é frequentemente chamado de pac ou pacman, cavalheiro elegante (gentleman), gangster, homem mau, monstro, patrão, homem de negócios, intelectual de esquerda, capitalista ou cangalheiro. Em cima da cabeça tem uma cartola, chapéu de cowboy, ou simplesmente chapéu. Todos reconhecem que usa gravata. O fato de não apresentar braços parece nunca ter suscitado comentários.

A presença do Dalaiama numa parede é quase sempre entendida como uma crítica à sociedade capitalista dividida em classes, exploradora do trabalhador, do ser humano reduzido à mercantilização, à mera  condição de produtor e consumidor de bens e serviços. Por outro lado, já houve quem visse nesses  desenhos um elogio ao capitalismo, uma espécie de elaboração festiva, de celebração da grandeza do  homem de negócios, gestor, empreendedor, criador de riqueza, que recolhe os frutos do seu trabalho  reinvestindo-os, fazendo, pois, uso da livre iniciativa, representada pelo voo do pássaro.

Há quem espere de nós a afirmação intransigente de um único significado para a nossa iconografia, o que, na nossa opinião, é próprio de uma sociedade habituada à competição agressiva e à imposição de opiniões. Já manifestámos diversas vezes o modo como encaramos a nossa produção. Quanto às diferentes interpretações que as  pessoas cordialmente nos fazem chegar, haverá alguém capaz de dizer «este indivíduo pensa corretamente mas o outro está errado»? É nossa convicção de que todos estão certos. Todos têm o  direito de interpretar o mundo à sua maneira. O espaço público é por excelência o lugar dos cruzamentos, em respeito mútuo, das diferenças. Podemos dizer que vivemos em democracia se as trocas  entre os opostos acontecem pacificamente. Com respeito pelo outro, consideração e aceitação. É fácil assumirmo-nos democráticos quando esperamos que as pessoas concordem conosco. Mas isso até os ditadores fazem. No nosso entender, ser democrático passa por ver e ouvir o que é diferente de nós, respeitando-o, aceitando-o como é. As ideias não se impõem. E a Arte Urbana, no nosso ponto de vista, deve ser encarada, por parte dos seus autores, com responsabilidade e dedicação, mas também com  desprendimento. Trata-se de uma oferta à comunidade. Pertence a todos.

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