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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Destruir hoje e lamentar amanhã



«Quando se fizer a história dos tempos sombrios que a Europa atravessa, a perplexidade que hoje sentimos será porventura ainda maior. Perguntar-se-á como foi possível convencer as opiniões públicas a esquecer a verdadeira origem da crise (o desvario dos mercados financeiros, decorrente da sua liberalização e desregulamentação), deixando-a intocada, e acreditar que o problema se encontra no Estado e nas políticas públicas. Perguntar-se-á como foi possível subordinar deliberadamente a Política a esses mesmos mercados e aos seus instáveis humores. Perguntar-se-á como foi possível continuar a acreditar (apesar dos ensinamentos do passado e dos sinais acumulados de fracasso do presente) que uma recessão se ultrapassa atravessando o fogo austeritário. Perguntar-se-á como foi possível esmagar a decisão soberana de cada país em matéria de correcção dos défices públicos (em larga medida agravados pelos impactos económicos da própria crise financeira), impondo-lhes unilateralmente a esgotada cartilha, apresentada como inevitável, de desmantelamento do Estado. Perguntar-se-á como foi possível que lideranças tão medíocres tomassem conta do ideal europeu e desprezassem - olimpicamente - um dos pilares que melhor o identificam: a própria democracia. Perguntar-se-á, enfim, como foi possível deixarmo-nos chegar aqui.»


Nuno Serra



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