«Marx procura resolver o "mistério" que reside no facto de o capitalista conseguir vender o produto do trabalho do produtor directo, por mais dinheiro do que aquele que investiu na compra de meios de produção, de matéria-prima e da força de trabalho. Marx descobre que é na compra dessa mercadoria específica, que é a força de trabalho, e no uso que lhe dá, que reside o "truque" ou o "milagre". Porque a força de trabalho é "fonte de valor, e de mais valor do que ela própria tem". O valor diário da força de trabalho corresponde aos meios de vida diariamente precisos para a produção da força de trabalho. Há assim uma diferença entre o valor da força de trabalho e a sua valorização no processo de trabalho. Essa diferença é assinalada por Marx ao referir-se ao valor como trabalho objectivado ou trabalho morto quando se refere às horas incorporadas nos meios de trabalho e na matéria-prima. Ou seja o trabalho que foi socialmente em média gasto para os produzir, enquanto o uso presente da força de trabalho no presente processo de trabalho é trabalho vivo.
O que acontece então é simplesmente que o capitalista faz trabalhar aquele que lhe vendeu a força de trabalho umas horas para além daquelas que são medidas pelo valor que ele pagou na compra. Ora é este trabalho a mais e não pago que vai repercutir no preço a que o capitalista vai vender o "seu" produto. A análise de Marx vai ainda refinar a sua complexidade, mas este admirável capítulo do Capital já nos elucida o bastante para percebermos a importância da definição do horário de trabalho.»
Manuel Gusmão
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