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sábado, 4 de julho de 2015

Varoufakis: a coragem e o bom senso gregos


«Varoufakis coloca as coisas nestes termos: nós tivemos um processo negocial em que o governo grego, que foi eleito para pôr fim à austeridade, aceitou perante as instituições europeias repor uma austeridade de 8 mil milhões de euros na sociedade grega. Numa sociedade que é, de longe, sem qualquer espécie de comparação, a que fez maior esforço de consolidação orçamental. Se juntarmos a austeridade que foi feita em Portugal, em Espanha e na Irlanda, tudo somado, não chega ao esforço que foi feito na Grécia. A Grécia cortou 25% dos seus funcionários públicos nos últimos anos; a melhoria do saldo orçamental primário na Grécia, entre 2008 e 2014, foi de 6,7 pontos percentuais do PIB (em Portugal foi de 1 ponto percentual). Foi sete vezes menos em Portugal do que foi na Grécia.
Temos portanto um país que foi o mais afectado pela austeridade; aquele que mais sofreu na pele o ziguezaguear das lideranças europeias; que tem um governo que é eleito com um mandato claro para parar a austeridade e que, para procurar uma solução negociada, entre os parceiros europeus, admite uma coisa que jurou não iria fazer, impondo uma austeridade de 8 mil milhões de euros e pedindo uma coisa em troca: (...) nós admitimos continuar o esforço desde que isso signifique assegurar o mínimo de estabilidade financeira para a Grécia, que não coloque este país sob um sufoco financeiro permanente, sob a chantagem do Banco Central Europeu, como tem vindo a acontecer até agora.
(...) Objectivamente a minha questão é que o governo grego partiu de um pressuposto que me parece legítimo e razoável, tanto na Grécia como em Portugal e que é: nós não podemos continuar na senda da destruição social e económica. E temos que encontrar uma solução para isto (...). O governo grego disse: nós vimos aqui para pôr em causa os interesses instalados na Grécia. E disse às instituições europeias uma coisa fabulosa: nós somos o único partido na Grécia com quem vocês podem contar para que alguma vez haja reformas a sério no Estado grego. Porque nós chegámos ao poder sem ter interesses instalados a apoiar-nos. (...) E o que recebeu de volta foi basicamente uma atitude de prepotência que torna os sistemas da democracia europeia extremamente frágeis. Porque nós neste momento percebemos uma coisa: votemos no partido A ou votemos no partido B, independentemente de quais sejam as suas propostas eleitorais, no final quem manda é o BCE.»

Ricardo Paes Mamede

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