"Tipicamente, aos 4-5 anos as crianças não têm nenhuma ideia de onde vem o dinheiro, pensam que o preço dos bens depende das suas características (nomeadamente as físicas – dimensão, proporção, etc.), não percebem de todo a ideia de lucro e são incapazes de aceitar que quem empresta dinheiro possa cobrar juros em troca.
Aos 7-8 anos têm consciência de que o dinheiro vem do trabalho (se os pais trabalharem), mas continuam a pensar que o preço das coisas depende da sua função ou utilidade prática (jamais um colar pode custar mais que um canivete suíço), que juros e lucros não fazem sentido, e são essencialmente desprovidos de pensamento estratégico ou de ganância nas relações com os outros. As trocas entre crianças são frequentes nestas idades, mas são motivadas por factores muito diversos (puro gozo, desenvolvimento de laços de amizade, desejo de possuir ou descartar objectos).
Lá para os 10-12 anos ainda não pensam na relação entre oferta e procura quando tentam explicar o preço das coisas – nesta fase acreditam que os preços são determinados pela quantidade de trabalho ou de materiais incorporados num objecto. Começam a perceber a ideia de lucro, mas aceitam mais facilmente que haja lucros baseados no que se produz do no que se troca. Só então começam a aceitar a noção de juros sobre os empréstimos, mas durante algum tempo continuarão a achar que os juros passivos (i.e., que os bancos pagam sobre os depósitos) devem ser maiores do que os juros activos (i.e., que os bancos cobram pelos empréstimos) - só muito mais tarde conseguem compreender a noção de lucro bancário.
O mais interessante de tudo é a forma como as crianças se comportam na famosa experiência do bem-público. Nesta experiência testa-se a disponibilidade de um conjunto de indivíduos para contribuir de forma anónima para um bem comum de que todos beneficiam. Entre os adultos, tipicamente, a partir de certo momento há alguém que, à sombra do anonimato, deixa de contribuir o que era esperado, desencadeando uma sucessão de respostas no mesmo sentido, resultando na falência do bem-público. Entre as crianças, por contraste, a coesão social tende a manter-se para benefício de todos.
Estes resultados fazem-me pensar que, se calhar, há tanto para aprender com as crianças sobre economia como para ensinar-lhes."
Ricardo Paes Mamede
Sem comentários:
Enviar um comentário