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sábado, 30 de novembro de 2013

Aumentar as fortunas de poucos com a fome da maioria


"au nom de la mansuétude chrétienne, un prêtre de l'Église anglicane, le révérend Townshend, psalmodie: Travaillez, travaillez nuit et jour; en travaillant, vous faites croître votre misère, et votre misère nous dispense de vous imposer le travail par la force de la loi. L'imposition légale du travail "donne trop de peine, exige trop de violence et fait trop de bruit; la faim, au contraire, est non seulement une pression paisible, silencieuse, incessante, mais comme le mobile le plus naturel du travail et de l'industrie, elle provoque aussi les efforts les plus puissants".
Travaillez, travaillez, prolétaires, pour agrandir la fortune sociale et vos misères individuelles, travaillez, travaillez, pour que, devenant plus pauvres, vous avez plus de raisons de travailler et d'être misérables. Telle est la loi inexorable de la production capitaliste."

"em nome da bondade cristã, um padre da Igreja Anglicana, o reverendo Townshend, prega: “Trabalhem, trabalhem noite e dia! Ao trabalharem, fazem crescer a vossa miséria e a vossa miséria dispensa-nos de vos impor o trabalho pela força da lei. A imposição legal do trabalho exige demasiado esforço, demasiada violência e faz demasiado estardalhaço; a fome, pelo contrário, não só é uma pressão calma, silenciosa, incessante, como também o móbil mais natural do trabalho e da indústria, ela provoca também os mais poderosos esforços.”
Trabalhem, trabalhem, proletários, para aumentar a fortuna social e as vossas misérias individuais, trabalhem, trabalhem, para que, tornando-vos mais pobres, tenham mais razão para trabalhar e para serem miseráveis. Eis a lei inexorável da produção capitalista."

"in the name of Christian meekness a priest of the Anglican Church, the Rev. Mr. Townshend, intones: Work, work, night and day. By working you make your poverty increase and your poverty releases us from imposing work upon you by force of law. The legal imposition of work “gives too much trouble, requires too much violence and makes too much noise. Hunger, on the contrary, is not only a pressure which is peaceful, silent and incessant, but as it is the most natural motive for work and industry, it also provokes to the most powerful efforts.”
Work, work, proletarians, to increase social wealth and your individual poverty; work, work, in order that becoming poorer, you may have more reason to work and become miserable. Such is the inexorable law of capitalist production."

Paul Lafargue

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Existir sem existir


“Mesmo se o material só durasse alguns segundos, daria à sensação o poder de existir e de se conservar em si, na eternidade que coexiste com essa curta duração. Enquanto dura o material, é de uma eternidade que a sensação desfruta nesses mesmos momentos.”

Gilles Deleuze

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

For Everyone


"I understand the reaction of people when they are not so happy to have graffiti on their walls. I want to be nice with people and I like people to be nice with me. That’s the reason also I don’t make aggressive images. You know all my images are suitable for people, for children, for everyone. Some graffiti artists want to destroy the city but I’m not like that at all. I don’t want to make sex images or stuff like that. My images are a present I make for everyone."

Blek le Rat

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

FAKE street art



"I’m not sure all the street artists are being true to themselves. They see one mural and someone does a mural just like it. I don’t mean to be critical, there are a lot of talented artists out there. Much more talented than me. But do they have something to say? And that’s really what I question. When I look at art, it has to speak to me. If it doesn’t speak to me than what is it? A beautiful portrait? If you said, “Paint me a portrait,” our waitress will paint a better portrait of you than I can. You know what I mean? It’s about the art. The art needs to speak to you, it needs to move you."

Cost (Street Artist)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ver, pensar, estruturar, compreender


"O estilo pessoal é também a maneira de aplicar, ou não, os princípios estéticos, teóricos e morais que constituem o estilo plástico da primeira Renascença de Masolino, Masaccio, Donatello, Alberti. O estilo torna-se o modo de olhar, o modo de ver e de representar de quem pinta. É inventado o “local de onde se vê”, de onde se “tem uma perspectiva”, de onde se “ganha distância” relativamente aos objectos representados. Com a perspectiva linear, a importância desloca-se dos objectos para o sujeito de observação. Na perspectiva linear prevalece a importância do ponto de vista. O sentido da visão é sobrevalorizado relativamente às sensações tácteis ou auditivas. Com a perspectiva linear, como com a literacia, o sentido da visão é o sentido do conhecimento.

Estamos perante outra historicidade, a do privilégio absoluto da visão no mundo moderno. Não me parece que seja por acaso que, depois da descoberta da perspectiva linear pictórica, frases como “ver as coisas em perspectiva”, ou “ter uma perspectiva de” sejam sinónimo de ver as coisas à distância, ou, mais simplesmente, pensar. E não é verdade que para a civilização ocidental desde os gregos, ver é já conhecer?" 

Pedro Rosa Vieira Caldas

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O funcionamento da realidade social


"O grande artista deve aspirar a modificar o mundo. Deixando de lado a sua atividade social ou política, como pode ter um cidadão qualquer como um ideal normal de justiça, há também razões artísticas que se desprendem da sua obra, que clamam por um mundo diferente. Não como arte política ou panfletária, mas porque todo o grande artista aspira a desvendar-nos a autêntica natureza das coisas, o autêntico funcionamento da realidade, na qual se inclui a realidade social."

Antoni Tàpies

domingo, 24 de novembro de 2013

Algum dinheiro


«Life can be wonderful if you're not afraid of it. All it takes is courage, imagination... and a little dough.»

«A vida pode ser maravilhosa quando não se tem medo dela. Tudo o que é preciso é coragem, imaginação... e algum dinheiro.»

Charles Chaplin

sábado, 23 de novembro de 2013

Hat Trick





Numa madrugada de frio em Lisboa, a tinta aqueceu paredes nas Olaias. 
Momentos especialíssimos na companhia de amigos maravilhosos, gente com cérebro iluminado e coração quente. Obrigado Glória, Davi e Paula! Abraços fortes! 

Today we had GREAT moments spraying with NICE FRIENDS at Lisbon! Thanks to Glória, Paula and Davi! YOU guys really ROCK! Yeeeah!!!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Trabalho para os pobres é um favor


«Les philanthropes acclament bienfaiteurs de l'humanité ceux qui, pour s'enrichir en fainéantant, donnent du travail aux pauvres; (...) Introduisez le travail de fabrique, et adieu joie, santé, liberté; adieu tout ce qui fait la vie belle et digne d'être vécue.
Et les économistes s'en vont répétant aux ouvriers: Travaillez pour augmenter la fortune sociale! et cependant (...)
"Les travailleurs eux-mêmes, en coopérant à l'accumulation des capitaux productifs, contribuent à l'événement qui, tôt ou tard, doit les priver d'une partie de leur salaire."
Mais, assourdis et idiotisés par leurs propres hurlements, les économistes de répondre: Travaillez, travaillez toujours pour créer votre bien-être!"»

«Os filantropos proclamam benfeitores da humanidade aqueles que, para se enriquecerem na ociosidade, dão trabalho aos pobres; (...) Introduzam o trabalho de fábrica, e adeus alegria, saúde, liberdade; adeus a tudo o que fez a vida bela e digna de ser vivida.
E os economistas continuam a repetir aos operários: "Trabalhem para aumentar a fortuna social!" E, no entanto, (...)
"Os próprios trabalhadores, ao cooperarem na acumulação dos capitais produtivos, contribuem para o acontecimento que, mais tarde ou mais cedo, os deve privar de uma parte do seu salário."
Mas, ensurdecidos e tornados idiotas pelos seus próprios berros, os economistas continuam a responder: "Trabalhem, trabalhem sempre para criarem o vosso bem-estar!"»

«The philanthropists hail as benefactors of humanity those who having done nothing to become rich, give work to the poor. (...) Introduce factory work, and farewell joy, health and liberty; farewell to all that makes life beautiful and worth living. (...)
And the economists go on repeating to the laborers, “Work, to increase social wealth”, and nevertheless (...) “The laborers themselves in co-operating toward the accumulation of productive capital contribute to the event which sooner or later must deprive them of a part of their wages”. But deafened and stupefied by their own howlings, the economists answer: “Work, always work, to create your prosperity!”»

Paul Lafargue

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Two Lines of Birds


"Depois de ter andado muito tempo, [o jovem Han Fook] alcançou a nascente do rio e encontrou uma cabana de bambu, erguida em absoluto isolamento e, diante da cabana, sentado sobre um tapete de vime entrançado, o ancião que ele vira junto à margem do rio, perto da árvore. Estava sentado, tocava um alaúde, e quando viu o visitante aproximar-se respeitosamente, não se ergueu, nem o saudou; sorriu apenas e deixou os dedos macios correrem sobre as cordas, e uma música maravilhosa pairou sobre o vale como nuvem argêntea, de forma que o jovem se ergueu e quedou extasiado, e num doce encantamento esqueceu tudo o mais, até que o Mestre-da-Palavra-Perfeita pôs de lado o seu pequeno alaúde e entrou na cabana. Han Fook seguiu-o cheio de respeito, e permaneceu com ele, como seu servidor e seu discípulo.

Decorreu um mês, e ele aprendeu a desdenhar todas as canções que até então compusera, e baniu-as da sua memória. E novamente, transcorridos meses, extirpou também da memória as canções que aprendera com os seus professores na sua terra. O mestre mal trocava com ele alguma palavra; ensinava-lhe silenciosamente a arte de tanger o alaúde, até que o Ser do discípulo ficou completamente impregnado de música. Certa vez, Han Fook compôs um pequeno poema, onde descreveu o vôo de dois pássaros no céu primaveril, o qual muito lhe agradou. Não ousou mostrá-lo ao mestre, mas uma tarde cantou-o, próximo da cabana, e o mestre ouviu-o atentamente, contudo não pronunciou palavra alguma. Apenas tangeu suavemente o seu alaúde, e imediatamente o ar arrefeceu, o crepúsculo abreviou-se, um vento forte ergueu-se, apesar de ser pleno verão, e no céu já escuro perpassaram duas garças, sumptuosas nos seus volteios, num poderoso desejo de emigração; tudo isto era tão mais belo e perfeito que os versos do discípulo, que este entristeceu, e silenciou, sentindo-se inapto."

Hermann Hesse (1914) [adaptado de uma tradução de Isabel de Almeida e Sousa]


"When he had traveled for a very long time, he reached the source of the river and found a bamboo hut standing by itself in the wilderness. On a braided mat in front of the hut sat the old man whom Han Fook had seen on the bank by the tree trunk. The old man sat and played his lute, and when he saw the guest approach respectfully, he did not get up, nor did he greet him. He only smiled and let his sensitive fingers play over the strings. A magic music flowed like a silver cloud through the valley, so that the young man stood in wondering astonishment and forgot everything else until the Master of the Perfect Word put aside his small lute and stepped into his hut. So Han Fook followed him with awe and remained with him as his servant and pupil. 

A month passed, and Han Fook had learned to despise all poems which he had written before. He erased them from his memory. And after a few more months he erased even those poems from his memory which he had learned from his teachers at home. The Master spoke hardly a word with him. Silently, he taught Han Fook the art of lute playing until the very being of the pupil was filled with music. Once Han Fook composed a small poem, in which he described the flight of two birds across the autumnal sky, a poem which pleased him quite well. He didn’t dare show it to the Master, but one evening he sang it near the hut. The Master heard it well but said not a word. He only played softly on his lute. Immediately the air became cool and the darkness increased; a sharp wind arose even though it was the middle of summer. Across the sky, which had now become gray, flew two lines of birds in their mighty yearning for new lands. All of this was so much more beautiful and perfect than the verses of the pupil, that Han Fook became sad and silent, and felt himself worthless."

Hermann Hesse (1914) [translated by Denver Lindley]


domingo, 17 de novembro de 2013

Domingos separados

"Os Beatles na vitrola enchiam de paixão
as tardes de domingo e sal
a gente faz de conta e sempre diz que não
mas só o amor é que é fatal
Desenha na aquarela
a face sincera do teu sonho
meus amigos separados me falaram
que o amor anda mal
Aí seja sincera
eu não tou propondo baixo astral
mas já não acho a professora mais bonita
e o meu pai o maioral
E você tem horror à minha vocação
de James Dean, cafona e normal
os Beatles na vitrola enchiam de paixão
e só o amor é que é fatal"

Oswaldo Montenegro

sábado, 16 de novembro de 2013

CORAGEM no COMBATE a um futuro de miséria e subdesenvolvimento


" A crise financeira iniciada em 2008 deu aos neoliberais o pretexto para um salto de gigante na reconfiguração do Estado. Depois de criar um problema de dívida pública com salvamentos bancários (...). Sobretudo com a actual maioria no governo, totalmente identificada com o projecto austeritário, o desmantelamento do Estado social, a desvalorização do trabalho, o aumento do desemprego e da emigração, e o empobrecimento e a recessão aprofundaram-se a níveis impossíveis de imaginar numa democracia que não tivesse caído na armadilha do «regime de emergência». O garrote de uma dívida que cresce perpetuamente e o dos tratados e compromissos internacionais (actuais e futuros) garantem décadas de miséria e subdesenvolvimento. Tudo para alimentar o sistema financeiro e os negócios privados que crescerão à sombra de um Estado «libertado» das suas arreliantes finalidades colectivas.

O Orçamento do Estado para 2014 (...) é justamente a sagração deste projecto que considera que o Estado é desperdiçado na população. Mantém todas as receitas da via austeritária, que não cumprem nenhum dos objectivos proclamados, e aprofunda-as (...). Ao criar esse «Estado paralelo» (...), que dependerá do dinheiro público para prosseguir fins privados, os neoliberais pensam conseguir, por fim, colocar uma sociedade cada vez mais desigual perante a experiência prática de serviços públicos sem qualidade (quando existem). Isto alimentará uma profunda desconfiança dos cidadãos na esfera pública, na democracia.

(...) Desde a década de 1980 que o neoliberalismo está a ganhar força contra o bem-estar comum. Aqui chegados, não podem ser adiadas respostas corajosas que lhe abalem as estruturas e o façam soçobrar. Quem não tiver esta coragem limitar-se-á a tentar gerir uma tragédia ingerível."

Sandra Monteiro

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Quem passou por nós


"Mas quem somos nós senão os outros? Um homem é todas as cousas que ele viu e todas as pessoas que passaram por ele, nesta vida."

Teixeira de Pascoaes

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Continuaremos a sustentar lucros privados com dinheiros públicos?


" Estávamos na década de 1980 e as primeiras experiências neoliberais, indissociáveis dos governos de Aníbal Cavaco Silva, sonhavam com a constituição de um mercado privado que canalizasse os recursos dos cidadãos. (...) Como levar os cidadãos a pagar no privado o que recebiam no público, com qualidade e «gratuitamente»?

(...) Como os sectores que prometiam lucros mais seguros, além dos ligados aos monopólios naturais, eram os da educação, saúde, segurança social, esse período foi marcado por fortes ataques ideológicos ao público, com campanhas intensas sobre os seus desempenhos e com os primeiros incentivos à dualização dos sistemas, traduzidos na eliminação progressiva da gratuitidade (propinas, taxas) e depois com as tentativas de plafonamentos.

(...)

Em países como Portugal, os neoliberais cedo aprenderam que as simples privatizações eram negócios muito arriscados. As novas universidades privadas faliam umas atrás das outras, os doentes continuavam a confiar mais nos hospitais públicos, a opção pelos seguros de pensões permanecia aquém do desejável para os negócios prosperarem. (...)

(...) O Estado pode ser maior ou menor, pode até ser reduzido ao mínimo, mas não é para eliminar, porque pode ser muito útil para colocar as populações e os seus recursos ao serviço de finalidades privadas.

O processo de captura do Estado assenta em vários tipos de engenharias neoliberais. Nas suas diferentes formas, que vão das parcerias público-privadas aos contratos de associação, passando pelas formas de empresarialização de sectores públicos, o que estas engenharias têm em comum é a capacidade para sustentar negócios privados com subsídios, rendas, contratos e todo o tipo de facilidades que lesam o interesse público e tornam o Orçamento do Estado incapaz de satisfazer as missões centradas no bem comum."

Sandra Monteiro

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Nós europeus somos o Mar de sangue do Mediterrâneo


"Há trinta anos, fugir do sistema político opressivo do seu país valia aos candidatos ao exílio os elogios dos países ricos e da imprensa. Nessa altura considerava-se que os refugiados haviam «escolhido a liberdade», isto é, o Ocidente. Assim, um museu em Berlim honra a memória dos cento e trinta e seis fugitivos que pereceram entre 1961 e 1989, quando tentavam transpor o muro que dividia a cidade em dois.

As centenas de milhares de sírios, somalis e eritreus que, neste momento, «escolhem a liberdade» não são acolhidos com o mesmo fervor. (...)

A sua morte parece ter inspirado alguns responsáveis políticos europeus. No passado dia 15 de Outubro, Brice Hortefeux, antigo ministro do Interior francês, considerou (...) que os náufragos de Lampedusa obrigavam a responder «a uma primeira urgência: fazer com que as políticas sociais dos nossos países sejam menos atractivas». E atacou as prodigalidades que atraem os refugiados para as costas do Velho Continente: «A ajuda médica do Estado permite que pessoas que chegam ao território sem respeitar as nossas regras [sejam tratadas gratuitamente], enquanto para os franceses pode haver até 50 euros de franquia».

Só lhe resta concluir o seguinte: «A perspectiva de beneficiar de uma política social atractiva é um elemento motriz. Deixámos de ter meios para fazer isto». Não se sabe se Brice Hortefeux imagina também que foi por se sentirem atraídos pelas ajudas sociais paquistanesas que 1,6 milhões de afegãos encontraram refúgio neste país. Ou que foi para beneficiarem das larguezas de um reino cuja riqueza por habitante é sete vezes inferior à de França que mais de 500 mil refugiados sírios já obtiveram asilo na Jordânia.

O Ocidente valia-se, há trinta anos, da sua prosperidade e das suas liberdades como de uma lança ideológica contra os sistemas que combatia. Agora, alguns dos seus dirigentes utilizam a desgraça dos migrantes para precipitar o desmantelamento de todos os sistemas de protecção social. Pouco importa a tais manipuladores do infortúnio que a esmagadora maioria dos refugiados do planeta sejam quase sempre acolhidos por países quase tão miseráveis quanto eles.

Quando a União Europeia não intima estes Estados, já próximos do ponto de ruptura, a «acabarem com o indigno negócio das embarcações improvisadas», ela ordena-lhes que se tornem a capa que a cobre, que a protejam dos indesejáveis, perseguindo-os ou detendo-os em campos."

Serge Halimi


Those who decided to flee from oppressive regimes and go into exile 30 years ago were admired in the rich countries of the West and acclaimed in the press. The view was that refugees had “chosen freedom” — a museum in Berlin honours the memory of 136 people who died between 1961 and 1989 attempting to cross the Berlin Wall.

Hundreds of thousands of Syrians, Somalis and Eritreans who are now “choosing freedom” are not welcomed with the same enthusiasm. (...)

Their deaths seem to have given some political figures pause for thought. On 15 October, former French interior minister Brice Hortefeux said the shipwreck called for an “immediate response: our countries’ social policies must be made less attractive”. He apparently assumed that extravagant generosity attracted refugees to Europe: “State medical care enables people who have entered the country illegally [to receive treatment free of charge] whereas French people may have to pay up to 50 euros ... The prospect of benefiting from an attractive social policy is a powerful incentive. We can no longer afford to provide that.” We do not know if Hortefeux believes that the 1.6 million Afghans who have sought refuge in Pakistan were lured there by its social services; or if 540,000 Syrians who sought asylum in Jordan escaped in order to enjoy the largesse of a kingdom where per capita income is seven times lower than in France.

Thirty years ago, the West used its prosperity and freedoms as an ideological weapon against the systems it opposed. Now some of its leaders are exploiting the distress of migrants to hasten the dismantling of social security. These manipulators of misfortune prefer to ignore the fact that the overwhelming majority of refugees worldwide are taken in by countries almost as poor as them.

When the EU is not insisting that these states, already close to collapse, “stop this unworthy business of unsafe boats”, it is urging them to become its buffer zone, to protect the EU from undesirables by tracking them down or holding them in camps."

Serge Halimi


"Il y a trente ans, fuir le système politique oppressif de leur pays valait aux candidats à l’exil les louanges des pays riches et de la presse. On estimait alors que les réfugiés avaient « choisi la liberté », c’est-à-dire l’Occident. Un musée honore ainsi à Berlin la mémoire des cent trente-six fugitifs ayant péri entre 1961 et 1989 en essayant de franchir le mur qui coupait la ville en deux.

Les centaines de milliers de Syriens, de Somaliens, d’Erythréens qui, en ce moment, « choisissent la liberté » ne sont pas accueillis avec la même ferveur. (...)

Leur décès semble avoir inspiré des responsables politiques européens. Le 15 octobre dernier, M. Brice Hortefeux, ancien ministre de l’intérieur français, estima par exemple que les naufragés de Lampedusa obligeaient à répondre « à une première urgence : faire en sorte que les politiques sociales de nos pays soient moins attractives ». Et il s’en prit aux prodigalités qui attirent les réfugiés vers les côtes du Vieux Continent : « L’aide médicale d’Etat permet à des personnes qui sont venues sur le territoire sans respecter nos règles [d’être soignées gratuitement], alors que, pour les Français, il peut y avoir jusqu’à 50 euros de franchise. »

Il ne lui restait plus qu’à conclure : « La perspective de bénéficier d’une politique sociale attractive est un élément moteur. On n’a plus les moyens de faire cela. » On ne sait si M. Hortefeux imagine aussi que c’est attirés par les aides sociales pakistanaises qu’un million six cent mille Afghans ont trouvé refuge dans ce pays. Ou que c’est pour profiter des largesses d’un royaume dont la richesse par habitant est sept fois inférieure à celle de la France que plus de cinq cent mille réfugiés syriens ont déjà obtenu l’asile en Jordanie.

L’Occident se prévalait il y a trente ans de sa prospérité, de ses libertés comme d’un bélier idéologique contre les systèmes qu’il combattait. Certains de ses dirigeants utilisent dorénavant la détresse des migrants pour précipiter le démantèlement de tous les systèmes de protection sociale. Peu importe à de tels manipulateurs de malheur que l’écrasante majorité des réfugiés de la planète soient presque toujours accueillis par des pays presque aussi misérables qu’eux.

Quand l’Union européenne ne somme pas ces Etats, déjà proches du point de rupture, de « faire cesser le business indigne des embarcations de fortune », elle leur enjoint de devenir son glacis, de la protéger des indésirables en les traquant ou en les détenant dans des camps."

Serge Halimi


domingo, 10 de novembro de 2013

Centenário


"Numa sociedade em que há classes dominantes e há classes dominadas, aqueles que escrevem a História pertencem em geral às classes dominantes e escrevem a história com critérios da sua classe. Há sem dúvida historiadores que, situando-se social e ideologicamente no âmbito das classes dominantes, procedem a uma investigação séria. Mas é muito raro fugirem a critérios de classe na investigação e na apreciação e valorização relativa que fazem dos problemas e dos acontecimentos."

Álvaro Cunhal

sábado, 9 de novembro de 2013

A produzir durante toda a noite


Seis horas seguidas de trabalho. Tudo o que se fez nesta madrugada foi muito produtivo. Tudo o que se fizer neste sábado será muito sonolento :p

We've been working without a break for six hours. Everything done during the night was nice, intense and colourful. Everything done during the day will be sleepy :p

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Usando técnicas ancestrais



"É Leon Batista Alberti quem dá a esta regra a primeira formulação, sendo assim considerado como o teórico da perspectiva entendida como técnica de representação pictural. Escreveu o tratado De Pictura em 1435, para o uso dos artistas. Ele ensina a técnica de composição de uma base quadriculada para dar direção à mão e ao olho do artista. Para tanto, pode-se afirmar que a base quadriculada tem como função dar uma escala espacial antes de organizar os elementos no espaço. Outro esquema auxiliar encontrado no tratado de Alberti é a sugestão do uso de um véu, um “véu interceptor”, que por detrás de uma espécie de malha quadriculada, muito fina, o artista fixa seu olhar e desenha os contornos do modelo. Este subterfúgio do véu inspirou Albrecht Dürer para a criação de suas máquinas perspectivas. O véu foi utilizado como instrumento pedagógico, para observar, compreender, medir e imaginar; utilizado também de uma forma pragmática para transferir aquilo que se vê."

Ivone Catarina Freitas Buratto

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Comedy


«Life may be a tragedy when seen in close-up, but is a comedy in long-shot.»

Charles Chaplin

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Trabalhar um ano sem comer


"A frase brilhante é de Nuno Crato, o mesmo que anda a desmantelar a escola pública, ao mesmo tempo que alimenta generosamente os negócios do privado. 
O ministro da Educação procurou dar uma aula de economia. Uma frase a retirar dessa memorável aula de economia é: "os portugueses teriam de trabalhar mais de um ano sem comer e sem utilizar transportes só para pagar dívida".
Para início de conversa seria interessante averiguar de que dívida é que Crato fala. Quem a contraiu? Em nome de quem? Que contratos lhe subjazem? A dívida cujo pagamento exige o desrespeito pela Carta das Nações Unidas? Trata-se efectivamente de uma dívida legítima? Não sabemos, nem vamos saber, mas o ministro da Educação - o que altera programas de disciplinas sem dar cavaco, o que engorda negócios chorudos no privado - anda com ela na boca.
Crato antes de vir mandar postas de pescada repletas de demagogia, deveria, primeiro, ter a decência de dizer aos portugueses de que dívida é que se trata. Sim, porque qualquer auditoria à dívida (auditoria independente e idónea) está fora de questão.
"Trabalhar um ano... sem comer" é o resultado da passividade de um país que aceita tudo sem reflectir, sem questionar, sem reagir, sem agir."

Ana Alexandra Gonçalves

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Disgusting Places


Trabalhando à noite, o esforço de oferecer gratuitamente Arte politizada, pode enfrentar desafios inimagináveis. Caminhando na escuridão, damos por nós a pisar lugares escuros e desconhecidos, de difícil acesso, ziguezagueando por entre elementos indefiníveis (e asquerosos para a maior parte das pessoas). 

At night, it's not just the absence of light, but working conditions may be harsh and unwelcoming. When carrying your street art equipment through the darkness, you can find yourself walking through unknown places, hard to access, dirty enough to look disgusting to most people. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

O sonho neoliberal


"Pedro Passos Coelho aproveita para impor ao país sucessivos cortes austeritários, através de mais uma brutal redução da despesa pública. A engenharia social em curso mantém os seus traços identitários: reduzir o rendimento disponível das famílias, degradar as condições de trabalho, aumentar a pobreza e a exploração, tornar a precariedade e o desemprego fenómenos estruturais, degradar os serviços públicos e as funções sociais do Estado para desenvolver negócios privados e transformar em profecia auto-realizada o sonho neoliberal do Estado como ineficiente e incapaz de satisfazer as necessidades dos cidadãos que o pagam."

Sandra Monteiro

sábado, 2 de novembro de 2013

Avenida de Sintra no Street View

http://goo.gl/maps/YauN2

Passeando pelo Google Street View, foi interessante deparar com a presença discreta de um pequeno quadro urbano realizado em março de 2009. Esta mesma pintura voltaria a aparecer neste blog, agora fotografada à luz do dia, no outono do mesmo ano, acompanhando mais uma citação inteligente do antropólogo português Ricardo Campos.

It's interesting to find in Google Street View this little wall done in March 2009. It was also shown in this blog, this time at daylight, four years ago, together with another clever quote by Ricardo Campos, a portuguese anthropologist and street art specialist.