«Após três semanas de crise política, o que fica é uma redistribuição de poder no interior do Governo mercê do qual um partido que representa 12% do eleitorado adquiriu o controlo sobre os ministérios da área económica, a regulação das relações laborais, a conclusão do processo de privatizações e o desmantelamento do Estado social.
Vão anunciar o início de um novo ciclo. Mas, longe de permitir vislumbrar qualquer alteração de rumo face à política de empobrecimento a que tem votado o país, a remodelação agora efectuada no Governo visa, no essencial, dar um fôlego adicional a essa mesma política. Perante a evidência das consequências devastadoras da estratégia implementada nos últimos dois anos – ao nível da produção, do emprego, da coesão social, do défice e da dívida –, os interesses representados no Governo optaram pela fuga para a frente. Trata-se de adiar o mais possível a manifestação soberana da vontade democrática do povo português, a fim de levar tão longe quanto possível o programa em curso de desvalorização do trabalho e eliminação de direitos laborais e sociais.
(...) A jogada consiste em fazer crer que esta é a mudança necessária para que o Governo passe a negociar de forma mais exigente e patriótica com a troika, e para que à fase da austeridade cega se siga agora a fase da prioridade à economia e de relançamento do investimento e do emprego. Nada disso irá acontecer.
Toda a política económica deste Governo (...) será decisivamente determinada pelo corte adicional e permanente de milhares de milhões de euros na despesa pública, o que transformará a recessão atual numa depressão de proporções calamitosas.»
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