quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Carnage In Gaza
"No caso do conflito no Médio Oriente, onde os erros não são igualmente partilhados, o «equilíbrio» significa esquecer quem é a potência ocupante. Mas, para a maior parte dos jornalistas ocidentais, é também uma forma de se protegerem do fanatismo dos destinatários de uma informação incómoda tornando-a um ponto de vista imediatamente contestado. Além de não se observar o mesmo enviesamento noutras crises internacionais, como por exemplo na da Ucrânia, o verdadeiro equilíbrio é atingido por duas razões. Em primeiro lugar, porque, entre as imagens de uma carnificina prolongada em Gaza e as de um alerta para disparos de rockets numa praia em Telavive, um bom balanço devia inclinar-se um pouco para um dos lados… Em segundo lugar, porque certos protagonistas – no caso vertente, israelitas – dispõem de comunicadores profissionais, enquanto outros apenas podem oferecer à comunicação social ocidental o calvário dos seus civis.
Ora, inspirar piedade não constitui uma arma política eficaz; é mais importante controlar a narrativa dos acontecimentos. Desde há décadas que nos explicam, portanto, que Israel «responde» ou «dá réplica». Este pequeno Estado pacífico, mal protegido, sem um aliado poderoso, continua no entanto a sair vencedor, por vezes sem um único arranhão… Para que tal milagre ocorra, cada confronto deve começar no momento preciso em que o Estado de Israel se exibe como vítima estupefacta da maldade que o oprime (um sequestro, um atentado, uma agressão, um assassinato). É neste terreno bem balizado que, a seguir, se espraia a doutrina do «equilíbrio». Um mostrar-se-á indignado com o envio de rockets contra populações civis; outro objectar-lhe-á que a «resposta» israelita foi muito mais mortífera. Um crime de guerra dos dois lados; em suma, bola ao centro.
E assim se esquece o resto, isto é, o essencial: a ocupação militar da Cisjordânia, o bloqueio económico de Gaza, a colonização crescente das terras. Porque a informação continua parece nunca ter tempo para aprofundar este género de detalhes. Quantos dos seus maiores consumidores sabem, por exemplo, que entre a Guerra dos Seis Dias e a do Iraque, ou seja, entre 1967 e 2003, mais de dois terços das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas foram transgredidas por um único Estado, Israel, e que muitas vezes elas referiam-se… à colonização dos territórios palestinianos? O mesmo é dizer que até um simples cessar-fogo em Gaza significa perpetuar uma violação reconhecida do direito internacional."
Serge Halimi
"In the Middle East conflict, where the wrongs are not equally divided, “balance” gives the occupying power an advantage. It also enables western journalists to escape the anger of those who dislike hearing inconvenient facts by “balancing” them against the words of other commentators explaining them away. The same concern for balance is not apparent, however, in other international crises such as Ukraine. In any case, true balance — between pictures of protracted carnage in Gaza and warnings of a rocket attack on a Tel Aviv beach — should tip the scales a little. If only because one side — the Israelis — use professional communicators, while the other has only the sufferings of their civilians to show to western media.
But inspiring pity is not an effective political weapon; it is better to control the account of what has happened. For decades, we have been told that Israel is “responding” or “retaliating”. The story is always that of a peaceful little state, poorly protected, without a single powerful ally, which manages to win through, sometimes without a scratch. And the confrontation always starts at the precise moment when Israel appears as the victim, shocked by misfortune — an abduction, an attack, an act of aggression, an assassination. A commentator will express indignation that rockets are being fired at civilians; then another will argue that the Israeli “response” was much more murderous. Score, one all, ball still in play.
And everything else, everything that matters, is forgotten: the military occupation of the West Bank, the economic blockade of Gaza, the colonisation of the land. News channels never take the time to go into details... How many people know, for instance, that between the Six Day war and the Iraq war, between 1967 and 2003, Israel failed to comply with more than a third of all UN Security Council resolutions issued, many of them concerning the colonisation of Palestinian land? A simple ceasefire in Gaza would therefore mean perpetuating a recognised breach of international law."
Serge Halimi
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