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quinta-feira, 15 de maio de 2008

Boicota o lucro


If you have a job with no labour rights don't be competent!

Se te dão emprego sem direitos não lhes dês competência!

http://www.flickr.com/photos/dalaiama

10 comentários:

Diana de Sousa disse...

Eu compreendo a intenção dessa frase, mas a questão é:

Se fosses pintor explorado por uma galeria de arte, serias propositadamente um mau pintor?

Se fosses professor com contrato a prazo, serias propositadamente um mau professor?

Se fosses um designer a recibos verdes, serias capaz de ser propositadamente um mau designer?

A competência tem mais a ver com uma questão de orgulho próprio e brio. Eu não sou capaz de ser má profissional propositadamente, mesmo quando não me dão direitos...

Mas sou capaz de mandar o empregador dar uma curva assim que conseguir arranjar um trabalho melhor.

E para arranjar um trabalho melhor tenho que demonstrar que sou competente.

Se não te dão emprego com direitos, procura um onde tos deêm. Podes ter de criar o teu próprio emprego, ou podes ter de emigrar.

Não dá orgulho dizer que se é incompetente mesmo com a desculpa de que isso se deve à falta de direitos.

Se te dão emprego sem direitos, em vez de te acomodares usa a cabeça...

Mário disse...

Diana, não podia estar mais de acordo contigo.

Não desresponsabilizo a ganância nem a incompetência de grande parte dos empresários e políticos do nosso país. Têm uma enorme fatia de “mérito” pela péssima qualidade de vida da generalidade da população.

Mas sem a responsabilização do indivíduo, de cada um de nós, nunca sairemos da espiral em que nos encontramos.

Sem os tais orgulho próprio e brio que mencionas, transformamo-nos todos em máquinas apáticas. Não premiamos indevidamente o suposto explorador, é verdade, mas também nada fazemos para a melhoria do nosso bem-estar, individual ou colectivo.

Com esta conversa toda, desviei-me um pouco da frase do nosso amigo Dalaiama, da qual, aliás, nem estou bem certo do real sentido.

Na minha opinião, “não lhes dês competência” pode significar: “não lhes ofereças a tua competência”, ou “não lhes atribuas competência”.

Como cada um interpreta as coisas à sua maneira e eu sempre considerei a segunda hipótese, mas talvez estivesse enganado, porque, de facto, a primeira tem mais a ver com o título deste post – “Boicota o lucro”.


Mudando de assunto, porque as conversas são como as cerejas, venho acrescentar um comentário ao post “Elogio Fúnebre”.

Entre o preto e o branco, há vários tons de cinzento, digo eu. Ás vezes os “bons” trocam-nos as voltas para serem “maus” e outras vezes os “maus” não são tão “maus” como parecem…

Não sei se estou a dar aqui uma novidade, mas, um outro mural que o Dalaiama criou na Torre da Marinha – Seixal – em Setembro do ano passado (junto a uma das rotundas de maior movimento desse concelho, num muro que suponho ser propriedade da autarquia), não durou sequer dois meses.

Foi rapidamente pintado de branco, mas manteve-se assim pouco tempo, pois, desde essa data tem sido utilizado pela JCP, para passar as suas mensagens politicas, como aliás tem acontecido nalguns outros muros e paredes do concelho do Seixal.

“Vandalismo institucional”?…


Dalaiama, um grande abraço, amigo! E desculpa-me por ter abusado do teu espaço com este enorme texto.

Rita Nery disse...

Concordo com tudo o que foi dito...mas confesso ter um grande defeito, não consigo ser competente se não gostar, se não me derem os direitos que mereço, se for contra, se não acreditar no que estou a fazer e principalmente se tiver a certeza de que o que estou a fazer é muito pouco ou quase nada útil a mim e aos outros...
E sim, já boicotei o lucro...de propósito? Não, mas também não gosto de andar sempre à procura de culpados, andamos sempre todos a criticar a política do nossso país, a emigrar cobardemente lutando pelo que não é nosso...o que eu acho é que Portugal não é um país de brandos costumes, como se costuma dizer, é um país com medo, medo de perder migalhas...mas nada faz em relação a isso, nada de prático, assertivo ou pelo menos com alguma credibilidade. Então, talvez tenhamos todos aquilo que merecemos.
Por exemplo se há coisa que me faz rir e às gargalhadas são as nossas manifestações seja lá pelo que for são todas iguais:
-um pretexto para passear;
-um pretexto para não trabalhar;
-um pretexto para rever velhos amigos;
-um pretexto para conviver;
-um pretexto para aparecer;
-um pretexto para se fazer um belo de um piquenique (nunca vi nenhuma manifestação sem merendas);
-e até em última análise um pretexto para se perceber o que se anda a passar afinal, sim, porque quando um qualquer é abordado por um qualquer canal telivisivo, é mais do que claro de que não fazem a mais pequena ideia do que ali estão a fazer...e as frases são todas ocas de conteúdo...
Depois de me rir muito, vem a fase da vergonha total, cartazes com erros ortográficos e também a numerosidade dos ditos manifestantes!eheheheh!!São sempre mtoooooooooooos!:)
Os politicos são ridiculos, mas não serão mais ainda aqueles que fazem deles o que são e que os colocam onde eles estão? Vendo por esta perspectiva o mais ridiculo é sem dúvida o "zé povinho" que em fase de eleições beija a mão dos eleitores em troca de umas canetas e porta-chaves do dito partido.
Espertos são eles...

Beijinhos

Rita Nery

Rita Nery disse...

Ah!Esqueci-me!Obrigada por sorrires:)(ainda não sei se isso é bom!eheh!)Não sei escrever de outra forma, por isso prevejo que continues a sorrir, isto se me continuares a ler, e se eu continuar a ecrever...
Tão complicadiiiiiiiiiinha!!

Obrigada
Beijinhos

Rita Nery

Rita Nery disse...

ESCREVER
:)
Beijinhos

A chata Rita Nery

IS disse...

gosto da foto, é o que é! :D
oh o som e fixe sim sr, e vem este ano ao alive, wiiiii

Diana de Sousa disse...

E também não há nada de errado em ter lucro. Lucro é bom. Não partilhar o lucro com aqueles que ajudaram a criá-lo é que é mau.

Não boicotes o lucro. Boicota a exploração.

Dalaiama disse...

diana sousa
mário
rita nery
is
meus amigos blogosféricos
:-)
sinto-me honrado com uma tal participação massiva no blog.

Desejava responder-vos um a um, mas como neste caso há muito a dizer e repetir-me-ia nos argumentos, é melhor comentar o que penso dos vossos comentários na globalidade.

Interessam-me as vossas opiniões, fazem-me pensar que realmente "cada cabeça é uma sentença". A frase tem poucas palavras mas cada um lhe acrescentou várias outras, no contexto de leituras individualizadas. Vocês põem-me a pensar que esta frase, já multiplicada por tantas paredes, vista in loco por tantos transeuntes em muitos lugares diferentes e por tantos outros através da net (uma vez que também já foi fotografada por pessoas que não conheço e por elas publicada), esta frase, dizia eu, há-de já ter provocado acesos debates e diferentes interpretações. Os vossos comentários fazem-me desejar ser mosca para estar no meio de todas as pessoas que já debateram o assunto...
:-p
Quantas variações de pensamento são possíveis a partir de uma única frase!!!

Bem, o Dalaiama com certeza não tem a arrogância de se achar dono da única interpretação possível. Logicamente, em democracia, admitem-se pontos de vista diversos.

Mas a frase na origem da polémica surgiu num contexto definido. Sem querer convencer ninguém de nada, apenas passo a enunciar esse contexto:

Como se sabe, uma directiva ideologicamente comprometida com a direita (e não tenho problemas em me assumir como sendo de esquerda) preconiza que quem trabalha DEVE ter emprego precário, porque assim vai se esforçar mais por ter medo de o perder. Por essa razão já quase 1/3 dos trabalhadores em Portugal (cerca de 1,5 milhões) ou está desempregado ou é precário. Os números na Europa também não são positivos. Nos países mais ricos nota-se menos a decadência nos direitos sociais apenas porque lá há globalmente mais riqueza. Mas em toda a Europa, e mesmo no mundo todo, com o motor avassalador do neoliberalismo, a desigualdade social cresce e com ela a perda de direitos de cidadania (o trabalho é uma das dimensões da cidadania). Segundo a própria Comissão Europeia, entre 1983 e 2006 a parte dos salários diminuiu 8,6% no PIB da União Europeia. Isto é possível com a perda de direitos sociais, porque com ela as pessoas perdem margem de negociação na desequilibrada relação patrão-empregado. Logo, passam a aceitar salários mais baixos por mais horas de trabalho e, precários, sem perspectivas de carreira.

Não é por acaso que os governos, meros representantes do poder económico, por todo o lado defendam a precarização do trabalho e a perda de direitos laborais. Por alguma razão os capitalistas mais ricos do mundo, os verdadeiros donos do planeta, se reunem anualmente em Davos na Suíça, para definir estratégias a aplicar globalmente no sentido de continuar a expansão do neoliberalismo. Por alguma razão a esses encontros em Davos acorrem os chefes de Estado "democraticamente" eleitos, não para nos representarem, mas sim para receberem intruções. O cão come sempre a bolachinha da mão do dono. É assim natural que o planeta funcione numa lógica comum cada vez mais neoliberal. As acções são concertadas.

Bem, se por um lado há quem acredite que quem trabalha sem direitos trabalha mais esforçadamente, o que a realidade vem demonstrando (não é o Dalaiama) é que acontece precisamente o contrário, isto é, as pessoas realizam pior as suas tarefas se desmotivadas com as poucas perspectivas de carreira e a perda de direitos laborais. Li no Le Monde Diplomatique há anos um artigo interessantíssimo que associava uma série de realizações incompetentes com o desinteresse dos trabalhadores, que se esforçavam menos por fazer as coisas bem feitas. Apresentava exemplos que iam desde o aumento de perdas de malas pelas companhias aéreas até a um "apagão" sério que aconteceu em França na altura. Porque os funcionários eram contratados temporariamente! Em Portugal, no incompetente governo do Santana Lopes, recordemos os atrasos na publicação das listas de colocação de professores (e consequente atraso no início do ano lectivo) que foram atribuídos também ao facto de as informações terem sido digitalizadas por trabalhadores temporários.

Assim, surge a frase acima. Especialmente contextualizada pelo momento actual de revisão do Código do Trabalho.
O coro dominante diz: é preciso tornar os despedimentos ainda mais ágeis, os trabalhos ainda mais flexíveis, os empregos ainda mais precários, porque só assim teremos um Portugal competente;
Dalaiama contrapõe com um apelo à resistência: combata-se a acomodação e a subserviência, porque emprego sem direitos não merece competência (e a realidade mostra que não a obtém).

Apenas isto.

E se tiveram paciência para ler até aqui, agora digam lá: é ou não curioso o rumo diferente tomado pelas interpretações de cada um?!?
;-)
Na minha opinião, à livre expressão das ideias e à convivência com as suas diversas interpretações chama-se verdadeiramente... DEMOCRACIA.
Agradeço-vos por este vosso contributo enriquecedor para o debate. Vocês ajudaram-me a reflectir. Se este post e a troca de ideias que se lhe seguiu tiver contribuido para a reflexão de alguém, óptimo. Se não, óptimo à mesma. Todos amigos :-)

E fiquem todos bem!

Dalaiama disse...

E Mário, obrigado por esta nota oficial sobre o desaparecimento de um mural do Dalaiama, desta feita na Torre da Marinha no Seixal.
Já verti a lágrima devida pelo decesso de mais essa realização poética. Que o mural, pobrezito, descanse em Paz!
>snif-snif<

Mário disse...

Pois. Amigo, eu entendo, aceito e concordo com a lógica que contextualiza a tua frase.

Como sabes, já experimentei o terrorismo psicológico posto em prática no local de trabalho, várias vezes. As consequências são horríveis – indignação, revolta, tristeza, apatia, depressão…

… chega-se a um ponto em que já não há sequer forças para reivindicar e, como ouvi uma vez o Garcia Pereira dizer, passamos a deixar a nossa dignidade à porta do local de trabalho.

Como também sabes, a solução que encontrei foi tentar fazer parte da mudança de forma construtiva. Com muito esforço, criei o meu próprio emprego, um projecto alicerçado na honestidade e no optimismo, valores que queremos estender a outros postos de trabalho que eventualmente venhamos a criar.

Esta é, também, uma forma de luta. A minha forma de contribuir para um mundo melhor, no qual voltei a acreditar.