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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Nós europeus somos o Mar de sangue do Mediterrâneo


"Há trinta anos, fugir do sistema político opressivo do seu país valia aos candidatos ao exílio os elogios dos países ricos e da imprensa. Nessa altura considerava-se que os refugiados haviam «escolhido a liberdade», isto é, o Ocidente. Assim, um museu em Berlim honra a memória dos cento e trinta e seis fugitivos que pereceram entre 1961 e 1989, quando tentavam transpor o muro que dividia a cidade em dois.

As centenas de milhares de sírios, somalis e eritreus que, neste momento, «escolhem a liberdade» não são acolhidos com o mesmo fervor. (...)

A sua morte parece ter inspirado alguns responsáveis políticos europeus. No passado dia 15 de Outubro, Brice Hortefeux, antigo ministro do Interior francês, considerou (...) que os náufragos de Lampedusa obrigavam a responder «a uma primeira urgência: fazer com que as políticas sociais dos nossos países sejam menos atractivas». E atacou as prodigalidades que atraem os refugiados para as costas do Velho Continente: «A ajuda médica do Estado permite que pessoas que chegam ao território sem respeitar as nossas regras [sejam tratadas gratuitamente], enquanto para os franceses pode haver até 50 euros de franquia».

Só lhe resta concluir o seguinte: «A perspectiva de beneficiar de uma política social atractiva é um elemento motriz. Deixámos de ter meios para fazer isto». Não se sabe se Brice Hortefeux imagina também que foi por se sentirem atraídos pelas ajudas sociais paquistanesas que 1,6 milhões de afegãos encontraram refúgio neste país. Ou que foi para beneficiarem das larguezas de um reino cuja riqueza por habitante é sete vezes inferior à de França que mais de 500 mil refugiados sírios já obtiveram asilo na Jordânia.

O Ocidente valia-se, há trinta anos, da sua prosperidade e das suas liberdades como de uma lança ideológica contra os sistemas que combatia. Agora, alguns dos seus dirigentes utilizam a desgraça dos migrantes para precipitar o desmantelamento de todos os sistemas de protecção social. Pouco importa a tais manipuladores do infortúnio que a esmagadora maioria dos refugiados do planeta sejam quase sempre acolhidos por países quase tão miseráveis quanto eles.

Quando a União Europeia não intima estes Estados, já próximos do ponto de ruptura, a «acabarem com o indigno negócio das embarcações improvisadas», ela ordena-lhes que se tornem a capa que a cobre, que a protejam dos indesejáveis, perseguindo-os ou detendo-os em campos."

Serge Halimi


Those who decided to flee from oppressive regimes and go into exile 30 years ago were admired in the rich countries of the West and acclaimed in the press. The view was that refugees had “chosen freedom” — a museum in Berlin honours the memory of 136 people who died between 1961 and 1989 attempting to cross the Berlin Wall.

Hundreds of thousands of Syrians, Somalis and Eritreans who are now “choosing freedom” are not welcomed with the same enthusiasm. (...)

Their deaths seem to have given some political figures pause for thought. On 15 October, former French interior minister Brice Hortefeux said the shipwreck called for an “immediate response: our countries’ social policies must be made less attractive”. He apparently assumed that extravagant generosity attracted refugees to Europe: “State medical care enables people who have entered the country illegally [to receive treatment free of charge] whereas French people may have to pay up to 50 euros ... The prospect of benefiting from an attractive social policy is a powerful incentive. We can no longer afford to provide that.” We do not know if Hortefeux believes that the 1.6 million Afghans who have sought refuge in Pakistan were lured there by its social services; or if 540,000 Syrians who sought asylum in Jordan escaped in order to enjoy the largesse of a kingdom where per capita income is seven times lower than in France.

Thirty years ago, the West used its prosperity and freedoms as an ideological weapon against the systems it opposed. Now some of its leaders are exploiting the distress of migrants to hasten the dismantling of social security. These manipulators of misfortune prefer to ignore the fact that the overwhelming majority of refugees worldwide are taken in by countries almost as poor as them.

When the EU is not insisting that these states, already close to collapse, “stop this unworthy business of unsafe boats”, it is urging them to become its buffer zone, to protect the EU from undesirables by tracking them down or holding them in camps."

Serge Halimi


"Il y a trente ans, fuir le système politique oppressif de leur pays valait aux candidats à l’exil les louanges des pays riches et de la presse. On estimait alors que les réfugiés avaient « choisi la liberté », c’est-à-dire l’Occident. Un musée honore ainsi à Berlin la mémoire des cent trente-six fugitifs ayant péri entre 1961 et 1989 en essayant de franchir le mur qui coupait la ville en deux.

Les centaines de milliers de Syriens, de Somaliens, d’Erythréens qui, en ce moment, « choisissent la liberté » ne sont pas accueillis avec la même ferveur. (...)

Leur décès semble avoir inspiré des responsables politiques européens. Le 15 octobre dernier, M. Brice Hortefeux, ancien ministre de l’intérieur français, estima par exemple que les naufragés de Lampedusa obligeaient à répondre « à une première urgence : faire en sorte que les politiques sociales de nos pays soient moins attractives ». Et il s’en prit aux prodigalités qui attirent les réfugiés vers les côtes du Vieux Continent : « L’aide médicale d’Etat permet à des personnes qui sont venues sur le territoire sans respecter nos règles [d’être soignées gratuitement], alors que, pour les Français, il peut y avoir jusqu’à 50 euros de franchise. »

Il ne lui restait plus qu’à conclure : « La perspective de bénéficier d’une politique sociale attractive est un élément moteur. On n’a plus les moyens de faire cela. » On ne sait si M. Hortefeux imagine aussi que c’est attirés par les aides sociales pakistanaises qu’un million six cent mille Afghans ont trouvé refuge dans ce pays. Ou que c’est pour profiter des largesses d’un royaume dont la richesse par habitant est sept fois inférieure à celle de la France que plus de cinq cent mille réfugiés syriens ont déjà obtenu l’asile en Jordanie.

L’Occident se prévalait il y a trente ans de sa prospérité, de ses libertés comme d’un bélier idéologique contre les systèmes qu’il combattait. Certains de ses dirigeants utilisent dorénavant la détresse des migrants pour précipiter le démantèlement de tous les systèmes de protection sociale. Peu importe à de tels manipulateurs de malheur que l’écrasante majorité des réfugiés de la planète soient presque toujours accueillis par des pays presque aussi misérables qu’eux.

Quand l’Union européenne ne somme pas ces Etats, déjà proches du point de rupture, de « faire cesser le business indigne des embarcations de fortune », elle leur enjoint de devenir son glacis, de la protéger des indésirables en les traquant ou en les détenant dans des camps."

Serge Halimi


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