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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Interpreta como quiseres

Já há vários anos Dalaiama espalha pelas ruas uma série de imagens que, a um só tempo, se pretende sejam poéticas e políticas. Alguns apreciam o estilo, outros nem por isso. Seja como for, é um dado assente que as motivações da arte dalaiamiana não são apenas estéticas, mas também de conteúdo. Dito de outro modo, é possível retirar uma mensagem dos trabalhos expostos nas ruas. Que mensagem é essa? Ora, se é nosso ponto de vista que o espaço público é pertença de todos, aquilo que ali acontece também o é. Assim sendo, não apenas é legítimo o direito à livre expressão nesse espaço, como também é legítima a livre interpretação do que ali se expõe. Daqui resulta ser possível que os autores de uma certa intervenção tenham uma determinada ideia em mente, mas que os fruidores dessa mesma intervenção a interpretem de maneira muito diferente. Isso é errado? Não. Há uma única interpretação considerada correcta das várias formas de Arte Urbana? Não. Primeiro, porque a Arte, enquanto conceito aberto, encerra um leque muito vasto de significações. Em segundo lugar, porque a rua, enquanto espaço colectivo, promove um acesso amplificado às obras, democratiza-as a tal ponto que qualquer pessoa, com mais ou com menos formação académica ou artística, tem acesso às obras expostas. Por último, acreditamos que todas as pessoas são portadoras de sensibilidade e inteligência. Podem assim perfeitamente exercer o seu direito a uma interpretação própria dos objectos estéticos colocados na rua. É normal que isso aconteça. Na verdade, esse é um dos aspectos mais fascinantes da Arte Urbana: a apropriação individualizada por parte dos vários grupos que visitam o espaço colectivo. O comum cidadão que circula na rua não apenas é dono das formas estéticas que ali se expõem como também é dono dos conteúdos que essas formas veiculam. Trata-se de uma apropriação colectiva realizada indivíduo a indivíduo. Neste sentido, quem oferece a sua Arte nas ruas, perante o seu público pratica o desprendimento (deixa de ter controlo sobre as obras) e a humildade (não pode ter a arrogância de querer determinar as múltiplas interpretações de que a sua obra será alvo). Portanto, na próxima ocasião em que deparares com a expressão artística de alguém no espaço público, pensa: «isto é meu, pertence-me, logo eu interpreto como bem entender.» Deves sentir-te à vontade para procederes à tua leitura personalizada. A Arte está nas ruas. A exposição dá-se todos os dias. Desejamos-te boas visitas!

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