Deparamos neste momento com paredes assépticas, intolerantes a desenhos independentes, sobre os quais são aplicadas a rolo manchas homogéneas que removem impurezas — não vá a liberdade de expressão criar maravilhosos momentos de espanto que ofusquem a monotonia dos murais esparsos que caracterizam manifestações restritivas e obedientes.
A paixão pela tinta transformou-se na pintura aborrecida sobre suportes previsíveis. Organizam-se excursões apresentadas como "very typical" para se tirar fotografias ao Amor que floresce com lugar e hora marcada.
A nova versão de arte pública, apodada de "arte urbana", com todos os méritos que em si encerra, não precisa de eclipsar, por meio da repressão institucional, as manifestações de artes plásticas que acontecem no espaço urbano, livres e cidadãs. Os poderes que promovem o muralismo autárquico e empresarial, são os mesmos que mandam punir autores divergentes, oprimindo e apagando todos os vestígios de expressões alternativas.
O conflito e a censura são desnecessários. Há paredes que cheguem para todos.
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