"Percorridas quotidianamente por milhares de pessoas, as artérias metropolitanas oferecem uma vasta plateia àqueles que pretendem comunicar com a massa indistinta. A materialidade urbana pode, assim, ser usada não apenas como mecanismo de ordenação da cidade mas igualmente como refúgio de resistência, contestação e inversão da ordem. Uma arqueologia das expressões insurrectas na arquitectura urbana conduz-nos aos inevitáveis exemplos das palavras de ordem do Maio de 68 Francês, às pichações e murais políticos no Portugal da ditadura e do pós - 25 de Abril, aos escritos e graffitis presentes no muro de Berlim ou na Palestina ou, mais recentemente, ao graffiti inspirado na cultura hip-hop de origem nova-iorquina.
Diversas situações, histórica e geograficamente longínquas, anunciam a capacidade de actuação dos cidadãos nos interstícios físicos e sociais da metrópole contemporânea. No quotidiano, diferentes pessoas, agindo solitariamente ou em grupo, apropriam-se dos recursos concedidos pela matéria urbana inserta num campo de visibilidade, operando na sombra da vigilância do poder, reivindicando uma voz através do único canal que lhes é acessível: o espaço público."
Ricardo Campos (antropólogo)
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