"A ideia preconceituosa de que só sob condições de miséria biológica os trabalhadores têm disposição revolucionária de luta não tem fundamento histórico. Se assim fosse, a África subsariana estaria no epicentro das situações revolucionárias no século XX. Situações revolucionárias abrem-se quando uma sociedade desaba em crise nacional, a classe dominante se divide e emerge no mundo do trabalho a vontade de lutar em defesa de si próprios, sendo os porta-vozes de um outro projeto de nação, arrastando atrás de si uma maioria social, inclusive parcelas das classes médias. Estas situações tendem a ser internacionalizadas, rapidamente, em ondas regionais de extensão. Foi o que aconteceu em janeiro de 2011 na Tunísia, contaminou o Egito e alastrou como um vendaval no mundo árabe.
É preciso conhecer a realidade concreta para dizer qual será o limite dos portugueses. Serão diferentes do que foram os limites dos argentinos em 2001, ou dos bolivianos em 2003, ou dos egípcios em 2011. A experiência política da decadência nacional é um processo desigual. Porque as nações são distintas [...]
E devem entrar nesta equação da análise os fatores subjetivos. O humor social depende da perceção subjetiva. É sempre um processo de acumulação de mal-estar. Em algum momento a quantidade dá o salto de qualidade, e o cidadão médio fica furioso, o ódio ao governo alastra e contagia a maioria da sociedade. A vontade de derrubar o governo ganha a força de uma paixão política. [...] É a oportunidade histórica em que se abre a hipótese da transformação social. É a hora da situação revolucionária."
Valério Arcary
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